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Arquitetos: HARQUITECTES
- Área: 1117 m²
- Ano: 2019
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Fotografias:Jesús Granada, Adrià Goula
Descrição enviada pela equipe de projeto. Um produtor de vinho de Priorat, que vinha aumentando sua produção, precisava de uma nova vinícola, que seria instalada em um terreno localizado no coração da cidade de Gratallops. O desafio era que a própria estrutura contribuíssem para a elaboração dos vinhos - com base em processos biodinâmicos - procurando atingir o comportamento ideal da edificação a partir de princípios passivos ou menos artificiais possíveis.
O lote tem uma geometria poligonal em forma de "L" e está rodeado por uma estrutura urbana típica do centro histórico, ruas estreitas e casas entre paredes com exceção da Igreja Matriz que, pela sua singularidade e dimensão, tem uma presença dominante e é a edificação que mais define o carácter do local.
No interior do terreno, um muro de pedra irregular, que antes era um frontão antigo, e com cerca de 10 metros de altura nos pontos mais altos, serve de limite com os vizinhos. A sua geometria, o amálgama de pedras, elementos de cerâmica e restos de gesso, fazem desta parede divisória um ponto de partida para o projeto.
A partir da aplicação da regulamentação urbana, e com o desejo de criar uma única grande sala com o máximo volume possível, duas áreas diferenciadas são criadas: Por um lado, um grande volume regular - o armazém - onde a parte produtiva com um planta retangular está localizada e com a largura e altura máximas possíveis. Por outro lado, temos o espaço restante em "Z" —a passagem— que recolhe e aproveita os espaços que circundam a nave e se estende —como uma rua interior— seguindo a geometria do muro de pedra que atua como uma parede divisória. Ele é uma extensão do espaço público dentro do local, é o que configura o acesso principal e serve como circulação e acolhimento para visitas e provas.
O interior do armazém é um grande espaço de pé direito triplo onde se situam as cubas de fermentação do vinho. Este é o espaço central do projeto, aquele que realmente define a vinícola e em torno do qual se articulam todos os demais espaços. Um grande volume rodeado por paredes muito espessas de até 1,75m de espessura que o protegem. Um sistema de paredes estruturais de cerâmica, com múltiplas camadas entre as pilastras, criam câmaras de circulação de ar que servem para resfriar o volume. No interior destas grandes paredes configuram-se também alguns ambientes menores que servem para acolher os usos complementares da atividade da vinícola.
No térreo, em torno do perímetro do espaço central da nave e seguindo o ritmo das pilastras estruturais das paredes, é aberta uma série de cavidades em forma de “capelas”, que servem para ligar visualmente a nave e o percurso ou para manobrar e armazenar o maquinário necessário na sala de vinificação. Assim, a nave é escura e densa em altura, mas no térreo se expande, abrindo-se para a luz do corredor.
O corredor é o espaço de recepção das uvas e dos visitantes. Uma transição térmica para a adega através de um caminho de declive muito suave permite atingir o nível interior do armazém e também cria a ligação com a rua posterior, superando o desnível existente com degraus. Este percurso semi-exterior segue uma sucessão de coberturas em diferentes alturas combinadas com uma série de lajes que funcionam como largos patamares entre escadas. Os telhados são verdes e a água da chuva é armazenada até transbordar de um telhado para o outro, descendo lentamente, desacelerando e fazendo com que ela percorra todo percurso, ajudando a refrescar o ambiente e regando a vegetação. Além de proteger da chuva, essas lajes protegem também da radiação solar direta e garantem que a passagem seja um ambiente fresco, como um jardim que abrigará uma taverna ao ar livre onde será vendido vinho, com degustações e refeições.
Os espaços mais exigentes são a zona dos barris e o armazém de vinhos já engarrafados, que requerem a máxima estabilidade hidro-térmica e, por isso, situam-se no subsolo em contato direto com o solo. Mas o grande desafio do volume é a sala de vinificação - também muito exigente em termos térmicos - que deve cumprir estas condições sem interagir com o terreno. A primeira estratégia é ter a altura interna máxima possível para favorecer a estratificação do ar quente na parte superior, longe dos equipamentos. Em segundo lugar, a máxima inércia possível de seus sistemas construtivos, ajudando a manter a estabilidade hidrotérmica interna. A terceira estratégia bioclimática é a cobertura, que em sua parte central aproveita a radiação noturna do céu para resfriar a laje. Um sistema fechado de recirculação de água é criado entre dois níveis, um superior em contato com o exterior onde a água dissipa o calor durante a noite trocando por radiação, e um inferior que, durante o dia, em contato com a laje, refresca o ambiente. Há uma troca em grande escala entre o interior e a temperatura externa que, por radiação, é uma fonte inesgotável de resfriamento.
As fachadas voltadas para a rua são coroadas com revestimento em azulejo e revestidas com uma fina camada de argamassa de cal que ajuda a contextualizar a edificação com o interior da vila e que diferencia claramente a materialidade exterior do volume com a do interior do corredor. O lado de fora a edificação tem uma presença mais vernacular mas, ao entrar no corredor, os sistemas construtivos são desconstruídos e explicam progressivamente a natureza do volume.